“Os garis são fundamentais para a limpeza das nossas cidades. Nós temos que valorizar, agradecer e sempre apoiar essa categoria que trabalha de cabeça erguida, debaixo de sol e de chuva, sempre em prol da sustentabilidade”
Sílvio Vieira, presidente do Serviço de Limpeza Urbana
Um dia sem eles é suficiente para causar alarde na sociedade. Essenciais para a organização urbana, trabalham para manter a limpeza das cidades e preservar o meio ambiente, evitando o acúmulo de lixo em áreas públicas. Esta terça-feira (16) é o Dia do Gari, instituído como ponto facultativo no ano passado pelo governador Ibaneis Rocha. A data é considerada também o Dia sem Lixo, em que não haverá varrição, coleta e catação de resíduos.
“Os garis são fundamentais para a limpeza das nossas cidades. Nós temos que valorizar, agradecer e sempre apoiar essa categoria que trabalha de cabeça erguida, debaixo de sol e de chuva, sempre em prol da sustentabilidade”, enfatiza o presidente do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), Sílvio Vieira. A profissão foi reconhecida nacionalmente em 15 de maio de 1976.
São mais de cinco mil profissionais de limpeza urbana que atuam de forma terceirizada em todo o Distrito Federal. As funções são diversas: desde a catação e varrição de resíduos sólidos nas ruas até a coleta de lixo nas residências e comércios ao tratamento dos resíduos nos estabelecimentos do SLU. O setor de catação e varrição é o que mais mobiliza pessoal, com efetivo de mais de 2,5 mil funcionários.
A Agência Brasília conversou com alguns desses profissionais para entender mais sobre a função, tão importante para a conservação das regiões administrativas. Veja!
Inspiração, respeito e zelo
O dia 14 de junho é lembrado com carinho pela gari Ana Maria de Araújo, 47 anos. É que foi nesta data, em 2011, que ela recebeu a notícia de que tinha sido contratada por uma empresa terceirizada do SLU. Inspirada no pai, que atuou como gari por 13 anos, Ana Maria sempre quis atuar na zeladoria urbana.
“Me inspirei nele, e depois que entrei vi que, realmente, é um bom trabalho. Nós trabalhamos, e muito, mas também nos divertimos. No final do dia, todo mundo vai embora feliz, brincando no ônibus”, conta. O pai foi afastado da função em 2020, devido à pandemia da covid-19, e aposentou no ano seguinte.
Antes de ser gari, Ana Maria trabalhava como diarista. “Há quase 12 anos, estou onde sempre quis estar, é a minha melhor fase – um trabalho que, mesmo sendo motivo de preconceito, é digno e bom para mim”, afirma ela, que é mãe de quatro filhos.
Outra pessoa com mais de uma década de história na categoria é a gari Marinete Alves, 43. Companheira de Ana Maria na catação de resíduos sólidos, com atuação na área central de Brasília, ela conseguiu o emprego por indicação da irmã, que também construiu uma relação sólida com a profissão.
“Minha irmã ficou por mais de dez anos na limpeza urbana. Um dia ela me contou que estavam contratando e mandou meu currículo. Quando fui chamada, tive a certeza que teria uma nova vida”, relembra Marinete. “Eu estava desempregada havia mais de três anos por conta de um problema de saúde. Foi realmente um recomeço.”
Além disso, a profissão com carteira assinada foi uma novidade na vida da moradora do Sol Nascente. “Já fui diarista, doméstica, atendente de lanchonete… E sempre agradeço por estar aqui até hoje, trabalhando, porque muitos já entraram e saíram. E eu estou aqui, colocando comida na mesa”, comenta. “Tenho uma equipe grande, quase um exército: seis filhos – duas mulheres e quatro homens – e sete netos. É muita gente para alimentar”.
O dia a dia dos garis enfrenta, diariamente, olhares preconceituosos e a falta de respeito de parte da população. Com um ano e cinco meses de casa, a gari Raimunda Jansen, 58, revela que são muitos os episódios em que pedestres destratam os profissionais. “A nossa função é muito importante; se não fossem os garis, essa cidade era um lixão. Mas tem pessoas que passam por nós se achando superiores, nos julgando pela cor da roupa”, lamenta.
Moradora do DF há 28 anos, a maranhense ressalta que, mesmo com os episódios de preconceito, não desanima do serviço. Ela compartilha que sempre teve vontade de trabalhar como gari, mas nunca tinha tido oportunidade. Um dia, sua filha ajudou-a a se candidatar a uma vaga, e ela conseguiu o tão sonhado emprego. “Como não tenho estudo, para mim era melhor ser gari do que ser doméstica. Amo trabalhar como gari, faço bem feito, eu gosto”, ressalta. “Enquanto estiver dando certo, estarei trabalhando com limpeza urbana”.
Quem também percorre as quadras do Plano Piloto é a gari Gislaine Silva, 37, com um espeto numa mão e um saco de lixo na outra. Observadora, ela pega cada item descartado que aparece no caminho. “Damos o nosso máximo para manter a cidade limpa, principalmente a área central de Brasília, pensando nas pessoas que vêm nos visitar”, explica.
Entre idas e vindas, Gislaine acumula quase três anos de experiência na área de limpeza urbana. Ela começou na função em 2018, por influência da mãe, que trabalhava como gari. “Tem que ter força de vontade, porque somos muito discriminados. Na pandemia, nós não paramos. E foi o pior momento em relação ao preconceito”, diz.
A catação e varrição de resíduos recolhe, em média, duas toneladas de material por mês. O número pode parecer pouco, mas não é. Isso porque são itens considerados leves, como papéis de bala e de salgadinhos, plásticos em geral, como copos e pratos descartáveis, e até latinhas. A manutenção é feita diariamente em todas as 35 regiões administrativas do DF e custa, mensalmente, mais de R$ 15 milhões aos cofres do SLU.
O trabalho de catação é feito por uma equipe de mais de 30 pessoas, dividida em duplas, e supervisionado por monitores. Telma Alves, 50, é a responsável por orientar, fiscalizar e auxiliar a equipe de Ana Maria, Marinete, Raimunda e Gislaine. Moradora do Setor O, Telma conta que aprecia o serviço: “Faz quatro anos que trabalho com limpeza urbana. Antes, era vendedora em shopping. E sempre foi meu sonho trabalhar em um local aberto, livre”.
Como o escritório da equipe é na rua, ela conseguiu conhecer áreas que tinha vontade de visitar. “Fui à Prainha, aos decks Sul e Norte e a muitos outros lugares”, aponta. Além disso, Telma defende que a categoria deve ser mais valorizada. “Até hoje, tem muitos locais a que chegamos, principalmente os garis, e somos discriminados. Tem lugar em que a gente senta para almoçar e as pessoas saem de perto por preconceito. Mas eles não pensam que, se não fossem os garis, a cidade não estaria limpa”, desabafa.
Fonte: Agência Brasília