Oferta de mais proteínas, inclusão de alimentos orgânicos com frutos do cerrado na dieta, atividades lúdicas e participação da agricultura familiar. Tudo isso são fatores que fazem a alimentação escolar do DF ser referência nacional. A Secretaria de Educação (SEE) está prestes a dar um passo além e receber a visita de uma delegação internacional para conhecer o lanche distribuído nas escolas do DF.
“Nosso trabalho é sempre oferecer uma alimentação de qualidade a todos os estudantes do DF, sem exceção, distinção de idade ou modalidade”, afirma Stela Nasser Araújo Bon, diretora de alimentação escolar da Secretaria de Educação.
Os cardápios e manuais de boas práticas alimentares são elaborados por uma equipe técnica de nutricionistas, considerando a quantidade de proteínas e nutrientes per capita adequada a cada faixa etária. Sempre que surge uma sugestão de cardápio, são realizados testes de aceitabilidade com nutricionistas do quadro da Secretaria de Educação, integrantes da comunidade escolar e integrantes do Conselho de Alimentação Escolar. O próximo passo é aplicar o mesmo teste em escolas selecionadas aleatoriamente, e, caso aprovado, a alteração é inserida no cardápio padronizado para toda a rede pública do DF.
“Levamos (a sugestão de novo alimento) para a escola, explicamos aos merendeiros e chamamos os estudantes para experimentarem. Se eles gostarem, começa o processo de inclusão. Para não desperdiçar, nós não compramos o alimento em grande quantidade antes de ele ser aprovado”, acrescenta a diretora.
A próxima ação será a inclusão de frutos e produtos nativos do cerrado, conforme a Lei nº 7.228/2023, que prioriza essa categoria. “Será feito um estudo acerca do quantitativo e época de colheita de cada fruto e esperamos que seja inserido com grande aceitabilidade, como todos os gêneros anteriores”, ressalta Stela.
Há, inclusive, um projeto para avaliar a inserção desses itens na alimentação escolar de todas as escolas públicas. O programa é uma parceria com as coordenações regionais de ensino do Guará e São Sebastião da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF), que atendem 34 mil alunos e 54 escolas. No total, serão fornecidas 378 toneladas de produtos naturais, entre hortaliças e frutas, abrangendo entre 30 e 35 itens orgânicos.
“A escola tem o projeto de deixar a comida mais gostosa, bem temperada, a cor mais atrativa… as merendeiras são ótimas. Às vezes a criança não tem isso em casa e aqui tem esse complemento”
Késia Barbosa, professora
A Emater-DF tem unidades locais que atendem os agricultores, acompanhando desde a identificação e qualificação até a prestação de contas e emissão de notas fiscais. José Nilton Campelo Lacerda, extensionista rural da Emater-DF, aponta os benefícios que esse projeto tem junto aos produtores rurais do DF.
“O programa incentiva o consumo e impulsiona esse pequeno agricultor, trazendo renda e permitindo que ele faça um planejamento melhor. A maior diferença é o produto final, pelos impactos na saúde e no meio ambiente. O projeto incentiva a produção sustentável de alimentos e você percebe no bem estar do agricultor, proporcionando um ambiente mais confortável”, afirma Lacerda. “A gente também ganha destaque nos circuitos de agricultura com esses programas, fortalece a rede local de comercialização da agricultura”, acrescenta.
A educação alimentar e os pequenos
O Jardim de Infância 603 atende 437 alunos no Recanto das Emas. As crianças, com idade entre 4 e 5 anos, recebem bem a merenda escolar. José Pedro, de 5 anos, fala de seu prato favorito na escola: “Gosto quando é macarrão. Acho muito gostoso”, diz ele enquanto experimenta a novidade do dia, uma receita com polenta.
Uma das professoras da pré-escola, Késia Siqueira Barbosa, de 31 anos, informa que é um prato novo e pensou que os estudantes não aceitariam bem, mas eles gostaram bastante. Ela afirma que os poucos alunos que trazem lanche ainda comem a comida da escola.
“Eles elogiam bastante a comida, comem bem. A escola tem o projeto de deixar a comida mais gostosa, bem temperada, a cor mais atrativa… as merendeiras são ótimas. Às vezes a criança não tem isso em casa e aqui tem esse complemento”, acentua.
Aline Lorrane de Sousa Gomes, de 28 anos, é a diretora do jardim de infância. Ela afirma que a alimentação saudável é a meta da escola e que há projetos fortes nessa área.
“Aqui as crianças participam muito. Trabalhamos com coisas lúdicas para ajudar. Uma vez fizemos um suco verde que eles não queriam tomar. Quando falamos que era o suco do Hulk logo eles se interessaram. Nós construímos esse conceito saudável, não é algo imposto. Trabalhamos justamente para inserir o que é saudável, fazendo a experimentação dos alimentos e usando a linguagem das crianças”, explica a diretora da unidade pré-escolar.
De acordo com ela, as merendeiras são orientadas todo início de ano com um curso feito pela Secretaria de Educação. Em um projeto com a Emater, as crianças produzem seus canteiros e hortas, com frutas e hortaliças, tudo plantado e cuidado pelos alunos, fazendo com que as crianças tenham mais contato com a natureza.
“Nosso trabalho é ter a criança como [foco] principal, há um compromisso grande com o bem-estar delas. Se as merendeiras percebem que a criança não aceita bem a alimentação, são feitas adaptações. Por exemplo: uma vez fizemos um suco de beterraba que os alunos não gostaram. Como não utilizamos açúcar, as merendeiras adocicaram com maçã e as crianças aceitaram muito melhor. A escola é referência porque é algo em que todas as pessoas que estão envolvidas, estão engajadas em oferecer um alimento de qualidade”, explica Aline.
A diretora acrescenta que há um trabalho com os pais para conscientizar da importância da colaboração deles. Há um evento chamado “comilança”, onde as comidas são servidas em em formato de restaurante self service, além de piqueniques mensais e cozinha experimental, entre outras atividades.
“Nós enxergamos os resultados na mudança do lanche que alguns pais mandam com as crianças. Vai de salgadinho e refrigerante para algo mais saudável. Tentamos alertar sobre os malefícios de comidas artificiais e a gente percebe que a comunidade começa a melhorar a qualidade alimentar”, completa Aline.
Ela também frisa que as regionais de ensino e a Secretaria de Educação sempre acompanham o trabalho de perto e sempre há conversas sobre a aceitação e adaptação dos alunos.
“Às vezes elas só se alimentam na escola, então há essa preocupação de fazermos algo com valor nutricional alto. As regionais de ensino e a Secretaria de Educação escutam muito a gente. Não é algo que vem de cima pra baixo, essa comunicação é muito importante, ser ouvido e respeitado”, destaca.
Fonte: Agência Brasília