Aos 97 anos, morreu nesta quinta-feira (15), em Belo Horizonte, o ex-ministro da Ciência e Tecnologia e ex-presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC) José Israel Vargas (na foto, ao lado do então presidente Fernando Henrique Cardoso). Um dos formuladores da política de energia nuclear do país, no início dos anos 1960, Vargas foi ministro nas gestões de Itamar Franco e Fernando Henrique.
Nascido em 1928 em Paracatu, no interior de Minas Gerais, o físico era professor emérito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e teve papel ativo em defesa da pesquisa brasileira. Foi também presidente e da Academia Mundial de Ciências.
“Nosso país perde hoje José Israel Vargas. Além de sua reconhecida carreira acadêmica no campo das ciências nucleares, deu importantes contribuições às políticas públicas: ocupou, entre outros cargos, o posto de ministro da Ciência e Tecnologia nos anos 1990. Vargas sempre defendeu a produção e a aplicação do conhecimento científico no Brasil e denunciou corajosamente o obscurantismo que enfrentamos no passado recente. Que Deus conforte os corações de seus familiares, amigos e colegas cientistas”, disse, em nota, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao longo de sua carreira, formou-se químico pela UFMG, estudou física no Instituto Tecnológico da Aeronáutica e doutorou-se em ciências nucleares pela Faculdade de Física e Química da Universidade de Cambridge, no Reino Unido. De volta ao Brasil, tornou-se professor da UFMG, onde dirigiu o Instituto de Pesquisas Radioativas, e foi assessor técnico da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Vargas também foi pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas.
Durante o golpe militar de 1964, seu laboratório foi invadido pelo Exército e Vargas foi demitido da CNEN e afastado da UFMG. Foi então voluntariamente para a França e lá ficou por quase sete anos, atuando como pesquisador do Centro de Estudos Nucleares do Comissariado de Energia Atômica, em Grenoble.
Na área acadêmica, desenvolveu ainda trabalhos sobre as transformações nucleares nos sólidos observadas por meio das interações hiperfinas. Nesse tipo de interação, a radiação emitida pelo núcleo é usada para descrever o estado do próprio átomo. Seu objetivo era entender o que acontece com o átomo que sofre uma transformação nuclear. Dedicou-se ainda ao planejamento e modelagem de sistemas energéticos.
Política
Foi secretário de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais e, à frente do Ministério da Ciência e Tecnologia, teve papel relevante na área, como a expansão e consolidação da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), Trabalhou também para aprimorar a qualidade da produção nacional, aperfeiçoando o Sistema Nacional da Propriedade Intelectual e a Metrologia e a Normatização.
No exterior, integrou a Comissão Assessora para Políticas de Cooperação Intelectual Internacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e integrou o Conselho do Instituto de Estudos Avançados da Universidade das Nações Unidas, na qual ajudou a desenvolver projeto para pesquisa de uma linguagem entre computadores que permitisse a tradução automática de línguas. Vargas também foi embaixador do Brasil na Unesco e presidente do Conselho Executivo da organização. Presidiu a Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento, atual Academia Mundial de Ciências, por duas vezes.
“José Israel Vargas foi um visionário incansável, um defensor da ciência, um ministro de Ciência e Tecnologia comprometido com o progresso e a soberania nacional e presidente da ABC. Foi um exemplo de dedicação ao conhecimento e à educação e na defesa da democracia. Seu legado seguirá inspirando gerações a acreditar no poder transformador da ciência para o desenvolvimento do Brasil”, disse, em nota, a presidente da Academia Brasileira de Ciências, Helena Nader .
O corpo do ex-ministro José Israel Vargas será velado nesta sexta-feira (16), das 9h às 12h30, no saguão da Reitoria da UFMG, no campus Pampulha, em Belo Horizonte.
Fonte: Agência Brasil