No Dia Internacional de Atenção aos Acidentes Ofídicos, lembrado nesta terça-feira (19), a Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) alerta para os perigos envolvendo ocorrências com picadas de cobras. Só neste ano foram 97 casos, com maior predominância em Taguatinga, Ceilândia, Sobradinho e Planaltina, segundo o Centro de Informações e Assistência Toxicológica (Ciatox), integrado ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Em 2022, o centro registrou 280 acidentes ofídicos, o que representa quase 50% do número de atendimentos realizados pelo Ciatox. Em relação a outros animais peçonhentos, como escorpiões e aranhas, foram 289 casos até o momento, contra 637 no ano anterior.
A médica e toxicologista do Ciatox, Andrea Amoras de Magalhães, reforça que acidentes envolvendo picadas de serpente inspiram maior atenção por serem mais perigosas, atingindo principalmente trabalhadores rurais homens. A especialista acrescenta que mais de 95% dos acidentes ofídicos ocorrem nas pernas ou nos braços. “Por isso, algumas medidas simples de prevenção devem ser adotadas, como a utilização de calçados fechados, perneiras ou botas de cano alto; além de não mexer em buracos no chão ou em ocos de árvores sem proteção”, sugere.
O que fazer?
Nos últimos cinco anos, não houve registros de morte de residentes do DF por motivo de picada de cobra, segundo Magalhães. Isso porque o Ciatox, além de atuar em orientações para os primeiros cuidados, indica onde há disponibilidade de antídotos para o veneno de escorpiões, aranhas e serpentes. “Temos soro antiofídico em todos os hospitais da rede pública”, lembra a médica.
O soro contra picadas de animais peçonhentos está disponível apenas nas unidades públicas. No DF, as unidades de referência para soroterapia de acidentes por animais peçonhentos são os hospitais regionais da Asa Norte (Hran), do Guará (HRGu); de Taguatinga (HRT); do Gama (HRG); de Planaltina (HRPl); de Ceilândia (HRC); de Brazlândia (HRBz); da Região Leste (HRL); e o Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib).
Em caso de picadas, a recomendação é lavar a região com água e sabão; manter o local em posição confortável; e levar a vítima para atendimento médico o mais breve possível. A toxicologista enfatiza que não se deve aplicar qualquer tipo de substância na ferida, como álcool ou borra de café.
“A única coisa que vai curar o paciente nesses casos é o soro que oferecemos nos hospitais para as várias espécies. Não se deve dar bebida alcoólica, garrotear o membro, furar a lesão na tentativa de fazer sair o veneno, nem colocar nenhum outro produto ou curativo na ferida, podendo causar infecção. Também não se deve cortar o local da lesão, nem chupar. O melhor é sempre sair correndo para o hospital”, aconselha Magalhães.
Uma vez na unidade de saúde, o centro auxilia ainda o médico a identificar a espécie da cobra por meio da sintomatologia do paciente. A partir disso, o hospital consegue fazer a prescrição correta caso a caso.
Os sintomas vão depender da espécie da cobra e do local da picada, podendo apresentar dor e inchaço, às vezes com manchas arroxeadas (edemas e equimose) e sangramento pelos pontos da mordedura. Pode haver também complicações, como hemorragia grave em regiões vitais, infecção e necrose no local atingido, além de insuficiência renal, formigamento, dor abdominal, vômitos, visão turva e dores musculares.
Como evitar?
A melhor forma de prevenir os acidentes é impedir o depósito ou o acúmulo de lixo, entulho e materiais de construção em casa; limpar regularmente móveis e terrenos baldios, além de locais próximos da residência como jardins, quintais, paióis e celeiros; utilizar telas, vedantes ou sacos de areia em portas, janelas e ralos; e inspecionar calçados, roupas de cama, panos de chão e tapetes antes de usá-los.
“É preciso ainda ter cuidado ao adentrar áreas rurais. Sempre utilizando botas de cano alto. Os animais peçonhentos estão cada vez mais próximos das residências, principalmente nos períodos de chuva, quando o ambiente natural deles fica molhado. É o momento em que eles se aproximam das casas para procurar abrigo ou alimento. Manter o terreno em volta da casa limpo, evita que eles consigam se esconder”, explica a toxicologista.
Qualquer pessoa pode falar com o Ciatox nos números 0800 644 6774 ou 0800 722 6001 para buscar orientações.
Casos no mundo
Estima-se que o número de pessoas picadas por cobras a cada ano no mundo pode chegar a 5,4 milhões, conforme dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Desse total, entre 81 mil e 138 mil morrem, e até 400 mil ficam permanentemente incapacitadas ou desfiguradas.
Os acidentes por animais peçonhentos, especialmente com cobras, foram incluídos pela OMS na lista das doenças tropicais negligenciadas. Isto é, enfermidades que acometem, na maioria das vezes, populações pobres que vivem em áreas rurais, desencadeando discriminação, abandono, perda de renda, dívidas, problemas de saúde mental e redução da qualidade de vida.
Devido ao alto número de notificações no país, o agravo foi incluído na Lista de Notificação Compulsória do Brasil. Assim, todos os casos devem ser notificados ao governo federal imediatamente após a confirmação.
Prevenção
⇒ Usar botas de cano alto ou perneira de couro; botinas e sapatos pode evitar cerca de 75% dos acidentes ofídicos
⇒ Usar luvas de aparas de couro para manipular folhas secas, montes de lixo, lenha, palhas etc. Não colocar as mãos em buracos. Cerca de 20% das picadas atingem mãos ou antebraços
⇒ Serpentes se abrigam em locais quentes, escuros e úmidos. Deve-se ter cuidado ao mexer em pilhas de lenha, palhadas de feijão, milho ou cana e ao revirar cupinzeiros
⇒ Serpentes se alimentam de ratos e, por isso, deve-se controlar o aparecimento destes roedores nas residências. Limpar paióis e terreiros, não deixar lixo acumulado. Fechar buracos de muros e frestas de portas
⇒ Evitar acúmulo de lixo ou entulho, de pedras, tijolos, telhas e madeiras, bem como não deixar mato alto ao redor das casas. Isso atrai e serve de abrigo para pequenos animais, que servem de alimentos às serpentes
*Com informações da SES-DF
Fonte: Agência Brasília