Fotógrafa faz série que critica o comportamento de turistas em locais “instagramáveis”

A fotógrafa afirmou que tem a impressão de que as pessoas estão visitando os mesmos locais, fazendo as mesmas poses e utilizando os mesmos filtros

A fotógrafa belga Natacha de Mahieu criou uma série fotográfica para criticar o comportamento de visitantes em locais turísticos. O projeto mostra a aglomeração de pessoas preocupadas em fazer fotografias em pontos famosos da Europa, conhecidos como locais “instagramáveis”.

Nomeado como “Teatro da Autenticidade”, o projeto de mestrado da jovem aborda a exploração do turismo em um momento de popularização das redes sociais e as preocupações com as mudanças climáticas no mundo.

Usando a geolocalização, Mahieu realizou um levantamento no Instagram em busca dos locais mais populares.

Em todas as imagens da série é possível observar aglomeração de pessoas, que procuram o melhor ângulo para registrar suas selfies para as redes sociais.

De acordo com a fotógrafa, “as mudanças climáticas são bem reais e bem óbvias”, então, era “natural” que seu trabalho retratasse também estas preocupações.

“Essa série, inspirada na jornada dos visitantes, traz questões sobre a maneira como exploramos os locais visitados e os motivos que temos para ir a um ponto turístico”, afirma a artista em seu site.

“O Teatro da Autenticidade interroga o que parecem ser as novas normas turísticas e a objetividade do meio fotográfico”, acrescenta.

Alguns dos locais explorados no projeto foram Capadócia (Turquia), Calanques em Marselha (França), Deserto Bardenas Reales (Espanha), Obersee (Alemanha) e o Parque Nacional da Peneda-Gerês (Portugal).

Ao jornal britânico “The Guardian”, a fotógrafa disse que, ao rolar o feed do Instagram, tem a impressão de que as pessoas estão visitando os mesmos locais, fazendo as mesmas poses e utilizando os mesmos filtros.

As fotos foram publicadas no site e no Instagram da artista.

Outras imagens da fotógrafa

Pont d’Arc, Ardèche, França, julho de 2021

Foto: Natacha de Mahieu/ Instagram

“Esta imagem colada da Pont d’Arc, uma grande ponte natural em Ardèche, sudeste da França, foi feita a partir de fotografias tiradas durante um período de 80 minutos no auge da temporada turística. O resultado final, feito a partir de 100 imagens, levou mais de uma semana para ser concluído”, disse a fotógrafa ao The Guardian.

Capadócia, Turquia, novembro de 2019

Foto: Natacha de Mahieu/ Instagram

“Todos os dias ao nascer do sol, balões de ar quente cheios de turistas sobrevoam as cadeias montanhosas da região da Capadócia, no centro da Turquia”, disse Natacha de Mahieu. “Aqui, os viajantes tiram selfies, enquanto um casal faz um pedido de casamento em um carro antigo na frente de um fotógrafo profissional. Nesta série, eu queria brincar com a linha entre realidade e ficção: essas fotos são ‘reais’ ou ‘falsificadas’?”

Outra série

Foto: Natacha de Mahieu/ Instagram

Também ao The Guardian, Natacha informou que planejou uma outra série, em cartões postais ainda mais famosos como a Torre de Pisa, na Itália, ou a Grande Muralha da China.

No entanto, estes locais denunciavam melhor o “turismo invisível”, em uma postagem em que um influenciador digital possui o poder de transformar a região em um destino obrigatório para milhares de outros turistas, mesmo que você consiga se sentir sozinho no momento da foto.

“Posts de viagens nas redes sociais parecem responder a uma certa estética e códigos sociais que as pessoas estão usando como se fossem atores, criando sua própria performance online em paisagens que se tornam commodities visuais”, disse.

A fotógrafa ainda questiona o fato dos turistas tentarem “escapar das convenções sociais em busca de momentos autênticos e introspectivos e acabarem nos mesmos ambientes naturais, vivendo as mesmas experiências e se comportando da mesma forma que outros milhares de viajantes”.

Além disso, a artista não se distancia do objeto de sua investigação. Também ao  Guardian, ela admitiu que adora redes sociais e viajar, vê influências da “estética de Instagram” em suas fotos, que costumam ter tons pastel. Ela ainda afirma que enfrentou “um dilema da geração Z” ao ver em seu feed imagens repetidas dos mesmos lugares feitas por pessoas diferentes.

“A fotografia perdeu sua objetividade, aumentando o distanciamento entre figuras idealizadas no Instagram e a realidade do ambiente na qual elas foram tiradas, reduzindo a presença humana a uma textura que cobre frágeis e majestosas partes da natureza”, disse.

Fonte: G1NOSSA

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